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O envelhecimento dos negros no Brasil

Atualizado: 19 de jan. de 2020

Hoje é dia 20 de novembro, um dia destinado a pensar sobre a desigualdade motivada pelo racismo estrutural existente no Brasil. Racismo este que muitos negam. Um dia em 365 dias do ano.


Também tem o 13 de maio, onde nós, brancos, demos jeito de colocar como protagonista da data a Princesa Isabel, que aboliu a “escravidão” no Brasil e fez com que os negros fossem retirados das senzalas e jogados à própria sorte às margens da sociedade.


E estão lá até hoje.


Tivemos avanços significativos nos últimos anos. As redes sociais deram voz especialmente aos jovens negros. As políticas públicas afirmativas também trouxeram algum resultado. Este mês o IBGE noticiou que pela primeira vez, as universidades públicas federais possuem mais estudantes negros do que brancos.


Infelizmente, quando estes estudantes saírem da universidade, encontrarão um mercado que paga menos aos negros, que dá menos acesso às funções de chefia aos negros, que investe menos nos empregados negros.


Eu sou branca. Aliás, sou branca, de cabelos claros, olhos claros, pele muito alva. Sou quem ergue a voz como mulher, porque os homens brancos ainda estão à minha frente. Mas não consigo não tentar me colocar no lugar das negras. Sei que jamais vou conseguir entender o que significa realmente o racismo, a indiferença, o pré-julgamento que os negros enfrentam. Sei que nunca vou sentir na pele o que eles sentem. A minha pele tem a cor do privilégio.


Bom, eu trabalho com idosos. Busco informações e dados sobre envelhecimento diariamente. E um fato notório é que o envelhecimento da população negra é bem mais penoso, sofrido e sem acessos mínimos do que o da população branca. Isso quando o negro envelhece, já que nas comunidades e periferias (onde está a maior parte da população negra), os jovens negros morrem mais do que os jovens brancos... a violência é maior e mais mortal para eles.


A população idosa que temos hoje é aquela que ainda não tinha políticas afirmativas, não conviveu com a abertura de um debate sobre igualdade. Nossos idosos negros foram os que trabalharam sem acesso à educação. São os que tiveram os empregos de esforço físico sem qualquer medida de prevenção. Tiveram pouco acesso ao atendimento de saúde. Cresceram sem saneamento básico, com pouco ou nenhum acesso aos espaços públicos de lazer e de cultura. Cresceram e envelheceram numa sociedade que primeiro desconfia, para depois abrir espaço ao negro. (ok, ainda não é muito diferente hoje).


Um exemplo que sempre trago são as domésticas que envelheceram criando os filhos das patroas e não conseguem a aposentadoria, pois sua relação de trabalho foi totalmente irregular!

Meninas que foram para as “casas de família” para trabalhar em troca de casa e comida, que são tratadas como “se fossem da família”, mas nunca foram. Estão no limbo. Envelheceram afastadas dos seus familiares, muitas não constituíram família, se desvincularam dos seus pelo afastamento do excesso de “trabalho” e hoje estão a mercê da própria sorte.


O tema é longo, profundo e pode ser bastante constrangedor para nós, os brancos. Falar sobre nossa parcela de culpa nisto tudo e, principalmente, admitir que somos, sim, privilegiados por sermos brancos numa sociedade racista, é fundamental para a construção de uma sociedade justa e igualitária.


E por fim, eu não creio que bastam os brancos entenderem que somos iguais aos negros. Se me posiciono assim, é como se bastasse a minha ajuda e o meu querer para que a sociedade se torne igualitária. É como se eu estivesse direcionando ao branco a responsabilidade de “salvar” o negro, feito a Princesa Isabel e sua caneta.


Não entendo assim. Percebo que devo me colocar no papel de coadjuvante nesta história. Movimentar debates, ajudar a segurar o mastro da bandeira. Mas o protagonismo deve ser dos negros. Afinal, quem sou eu para ocupar um lugar de fala que nunca foi meu?


Gosto da frase da professora norte americana Angela Yone Davis: “Numa sociedade racista,

não basta não ser racista é necessário ser antirracista”. Sou antirracismo e contra qualquer preconceito. Entendi desde cedo que nada nem ninguém deve ser condicionante para colocar o outro posição de favoritismo. Nem raça, nem orientação sexual, nem religião.


Nada.

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